O paradigma de Darwin e a língua

pharmacia

A língua é uma coisa viva, que evolui com o passar do tempo. Não estranha a ninguém que hoje em dia “farmácia” se escreva com “f”, mas até à reforma ortográfica de 1911, escrevia-se “pharmácia”. Similarmente, é comum usar a expressão “cair o Carmo e a Trindade”, que se pensa ter surgido após o terramoto de 1755, quando os respetivos conventos foram destruídos.

Tal como a teoria da evolução de Darwin postula para os seres vivos, também a nossa língua sofre mutações para melhor se adaptar ao presente. Cada geração cria novos conceitos e os termos para os expressar, e esquece as palavras que caíram em desuso. A “pharmácia”, do latim pharmacia, pereceu, juntamente com a sua língua de origem. Paralelamente, o advento da globalização abriu-nos todo um leque de estrangeirismos que incorporamos no dia a dia. Quem preferirá o “correio eletrónico” ao “e-mail”? Teremos um termo em português para “software”?

Por vezes, podemos ver a língua mudar à nossa frente. Um exemplo disso é o novo Acordo Ortográfico (quer se concorde com ele ou não). Outro é as redes sociais e a prevalência crescente da comunicação escrita. Não é só todo um novo vocabulário está a surgir nestas redes. Surgem também novas formas de ortografia e pontuação, para expressar as nuances que normalmente comunicamos com o nosso tom de voz e linguagem corporal. Um “Lol 🤣” dificilmente terá o mesmo significado que um “Lol…..😑”.

No meio de tudo isto está o tradutor. A tradução não é só passar um texto de uma língua para outra. Há que adaptar o texto às regras da língua de destino, procurar as expressões mais adequadas para transmitir a mensagem. Parte do trabalho do tradutor é manter-se a par destas mudanças. E nos dias de hoje, é um trabalho cada vez mais vital para a sociedade.

Daniela Isidoro, tradutora e revisora