Tradução jurídica: como preparar um briefing perfeito para o seu tradutor (glossários e referências)
Tradução jurídica exige precisão. Um briefing claro com glossários e referências certas evita retrabalho e atrasos.
Índice
Porque o briefing decide o sucesso
Resultados sólidos em matérias legais raramente são acaso: nascem de um briefing disciplinado que alinha âmbito, terminologia e expectativas desde o primeiro dia. Quando estão em causa exequibilidade, responsabilidade ou prazos regulatórios, a ambiguidade sai cara.
Um briefing conciso dá ao linguista a mesma orientação da sua equipa jurídica: papel do documento, quem o lerá e o que é intocável. Se recorrer a tradução jurídica completa, junte um prazo realista e um ponto de contacto para dúvidas — reduz o ping-pong e mantém o avanço.
Defina também como serão tratadas anotações e redlines. Haverá uma primeira leitura pelo jurídico, ou quer já uma versão final pronta a apresentar? Clarificar isto protege calendário e orçamento sem sacrificar a qualidade.
O que incluir num briefing de tradução jurídica
Seja curto, estruturado e repetível. Inclua: objetivo (ex.: apresentação, divulgação, due diligence), audiência (juiz, regulador, contraparte), jurisdição(s) e registo desejado (formal, claro, bilingue se necessário). Indique formatações rígidas como numeração de cláusulas, notas e anexos.
Adicione uma secção de terminologia com ligação ao glossário aprovado e termos a manter na língua de origem. Se a organização usa nomes de políticas internas ou marcas/produtos, marque “não traduzir”.
Liste referências autorizadas: traduções anteriores aceites, modelos bilingues, preferências de estilo e citações. Se precisar de traduções certificadas, indique o padrão exigido (por exemplo, a norma ISO 17100).
Feche com logística: formato de entrega (DOCX, PDF, tabela bilingue), expectativas de QA e um decisor terminológico. Com prazos curtos, peça um plano de entregas parciais por prioridade.
Construir um glossário leve e vivo
O glossário é um registo de decisões, não um dicionário. Comece com 30–80 termos de alto impacto: nomes corporativos, famílias de produtos, cabeçalhos de cláusulas e conceitos legais. Entradas simples: termo, tradução aprovada, nota de contexto e frase-exemplo.
Crie-o antes da tradução. Peça ao fornecedor propostas com base em frequência e no processo de glossários personalizados. Quando houver ambiguidade, acrescente notas “preferir/evitar”.
Centralize e versione o ficheiro para permitir atualizações controladas — isto sustenta a coerência textual entre contratos e faz com que projetos futuros herdem as mesmas decisões.
Aprovações devem ser leves: nomeie um revisor jurídico para validar lotes. Com o tempo, o glossário torna-se um ativo de redução de risco que acelera orçamentos, melhora o controlo de qualidade e reduz disputas de redação.
Empacotar as referências certas
Bons exemplos aumentam a velocidade e a precisão. Forneça um conjunto curado: um acordo recente nas duas línguas, peças processuais e quaisquer modelos exigidos pelo regulador. Evite despejar arquivos; sinalize o que é autoritativo.
Inclua padrões de estilo e qualidade. Se requer conformidade com a nossa certificação ISO (processos ISO 17100) ou pós-edição segundo a ISO 18587, diga-o e partilhe SOPs internos. Isto alinha aprovação terminológica, papéis de revisão e controlos de entrega.
Quando o tema for técnico (patentes, engenharia), adicione ponte para tradução técnica, unindo vocabulário jurídico e técnico.
Para setor público/EU, acrescente bases terminológicas oficiais como a IATE e guias de estilo dos tribunais (úteis para citação e capitalização).
Contexto: processo, jurisdição, audiência
O contexto elimina adivinhas. Diga onde o documento será usado e qual o sistema jurídico que o rege. “Angola, direito administrativo” conduz a opções diferentes de “Portugal, societário” ou “Brasil, defesa do consumidor”. Se houver várias jurisdições, priorize a autoridade para decisões terminológicas.
Identifique expectativas da audiência. Juízes preferem redações conservadoras e fiéis; equipas de compliance tendem a linguagem clara. Se o leitor comparar colunas bilingues, peça quebras de parágrafo alinhadas para facilitar a revisão.
Indique restrições críticas: precisa de uma entrega com reconhecimento notarial ou apenas de tradução jurídica com certificado de exatidão? Existem limites de caracteres em formulários? Estes detalhes orientam o layout e evitam retrabalho.
Fluxo, QA e confidencialidade
Ajuste o fluxo ao risco. Assuntos complexos beneficiam de tradução → revisão independente → revisão criteriosa por linguista sénior/jurista-linguista. Em urgência, segmente: traduza e valide cláusulas críticas primeiro.
Defina gates de QA. O fornecedor deve verificar números, citações, remissões e termos definidos. Pergunte como assegura traduções rigorosas quando a fonte é um scan ou contém manuscritos. Para tribunais/autoridades, confirme os passos de certificação e se exige cópia carimbada. Em pós-edição, alinhe expetativas com a ISO 18587.
Confidencialidade não é opcional. Requeira NDAs e métodos de transferência seguros. Em projetos longos, melhoria contínua e avaliação contínua ajudam a detetar padrões e a corrigi-los cedo.
Erros comuns e como evitá-los
Briefings excessivos. Instruções de dez páginas raramente são lidas. Fique por duas páginas mais anexos; o conteúdo “vivo” (glossário/estilo) em links partilhados.
Terminologia vaga. Palavras como “de preferência” geram idas-e-voltas. Decida, registe e siga. Se houver desacordo, documente o compromisso no glossário e marque para revisão futura.
Referências tardias. Enviar documentos-chave depois do arranque cria inconsistências. Partilhe tudo antes, depois congele o conjunto salvo exceções críticas.
Sem dono claro. Nomeie um responsável para decisões rápidas. Quando todos decidem, ninguém decide.
Ignorar a última leitura. Mesmo excelentes linguistas falham. Inclua uma segunda vista e, se fizer sentido, uma revisão crítica para desafiar pressupostos.
FAQ
1) Porque é que o tradutor pede tantos ficheiros de contexto para tradução jurídica?
Porque a mesma expressão pode ter leituras diferentes consoante o sistema jurídico, o foro e o objetivo da peça. Um Acordo de Confidencialidade usado para M&A não é igual ao de uma relação laboral; a seleção terminológica e o tom mudam. Quando partilha peças anteriores aceites, guias de estilo e glossários aprovados, o tradutor confirma preferências (capitalização de órgãos, citação de normas, estrutura de cláusulas) e evita divergências entre documentos relacionados.
Esta preparação diminui idas-e-voltas, melhora a coerência entre anexos e encurta o ciclo de revisão. Em projetos com múltiplos tradutores, as referências asseguram que todos seguem o mesmo padrão, tornando a revisão final mais rápida e objetiva, com menos riscos de inconsistência residual.
2) O que diferencia tradução jurídica de “tradução certificada”?
São camadas distintas. Tradução jurídica é a especialidade temática: traduzir conteúdo legal com rigor técnico (terminologia, citações, referências a lei, estruturas contratuais). Já a tradução certificada é um procedimento de formalização: juntamos uma declaração de fidelidade com reconhecimento notarial/advogado, para que a tradução tenha valor legal perante uma entidade.
Muitas vezes precisa das duas coisas: primeiro a tradução jurídica de qualidade; depois a certificação adequada ao destino. Para uso fora de Angola, pode ser necessário apostilar o reconhecimento (Apostila de Haia). Sinalize estas exigências no briefing para que a equipa planeie prazos, custos e logística de entrega física/digital.
3) Como garantir coerência terminológica numa ação longa com várias peças?
Defina uma fonte de verdade terminológica (glossário) e uma pessoa de contacto para arbitrar decisões. O glossário deve nascer de documentos modelo, minutas e sentenças frequentes, com termos preferidos e proibidos, notas de uso e exemplos. Em produção, cada sprint acrescenta propostas ao glossário que são validadas pelo ponto focal (jurídico/negócio).
Use também guias de estilo (aspas, numeração de artigos, citação de diplomas). Em equipas, combine revisão independente e revisão por pares para apanhar desvios e manter consistência entre lotes. Se o processo for certificado pela ISO 17100, garante-se a existência de uma etapa de revisão formal e rastreável em todas as entregas.
4) Não tenho glossário. O que faço para o primeiro projeto de tradução jurídica?
Sem problema: começamos com um glossário semente extraído dos seus documentos e de terminologia pública (lei/regulamentos aplicáveis). Na proposta de arranque, entregamos uma primeira versão com termos críticos (definições, cláusulas padrão, siglas), para aprovação rápida por quem decide.
Durante a tradução, mantemos o glossário “vivo” e apresentamos alterações justificadas (por exemplo, por preferências do tribunal ou prática interna). No fecho, devolvemos o glossário aprovado e uma mini-guia de estilo para que, no projeto 2 e seguintes, a rampa de entrada seja praticamente zero — menos dúvidas, menos tempo, menos custo.
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